sexta-feira, 3 de outubro de 2008

SORTE

Dois meninos de pó
Brincam à vida
Largam balões de ensaio
Desenham no céu balizas
Marcam golos com a mão
Sem penaltis
Sem árbitros
Bela imprudência
Mágica sedução
Encantam-se no fingir
Passam um pelo outro na folia
De mãos dadas correm
Na corda gigante saltam
Mascaram as caras na fantasia
Coloram a noite de devaneio
Amam-se na descoberta
Descobrem-se no Amor

Chama-se Pai
Chama-se Filho

Dois meninos de pó, soprados pela sorte de quem brinca…

JP

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

CAIR

Vens comigo em viagem
Dobramos de mãos coladas a curva
Pontapeamos a pedra sorrindo
Engolimos beijando o asfalto
Rompemos em abraço a vantagem

Oscilante e eminente a tua queda
Do alto acusas a vertigem
Partes à partida em voo louco
Agarras de verdade a rede que te protege
Vês-me caindo eu crescendo

Acorda-te o susto
Como nos sonhos pesados
Antes mesmo de bateres no chão

Mas acordas, que bom...

JP

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

QUENTE

Elevo-te em braços o peso que pesas
Ondulas cadente por mim em ti
Fusão imensa de nós
Seda epidérmica que apela
Espasmo cintilante que aquece

E o sorriso que suspende
Dessa boca que chama a chama

JP

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

DOIS

Entrei sem querer no instantâneo
Passei sem me dar conta das tuas contas
Revelado está o paralítico
Mordem em vigor as cores que o pintam

Sou eu aqui, nu de semelhanças.
Quente do agasalho, por ti longe deixado.
Meia-luz te indica.
Afasto ramos e tramas. E chego.

Perto te dás
Ao lado te apraz
A força que mexe os dois
Eu e tu, lado a lado com a paz

JP

MARCO

Pela janela te espreito em orvalho
Lento ao relento te espio
Apertas nas pernas e na vida a ideia
Cobres-me de ouro num olhar
Aquecem-me os teus cabelos no frio do luar

Sabes a noite escapada
Foragida de tanta luz
Orquestras a chegada
Num leve sorriso
Espantas o negro que teima em ficar

Defendes a doirado a prata lunar
Ergues luminosa o sol para vingar

JP

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

MEDO

Travo-te o gosto a gosto
Vens sem aviso ver
Sondas ao de leve e levas-me
Semeias ao vento a ternura
Regas a lágrimas o crescimento

JP

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

TUDO

Tanto que fica por dizer
Tanto que jamais será dito
Tanto que jaz no sonho desfeito
Tanto que sobra
Tudo o que se promete
Em apeadeiros ignorados
Com vista na estação definitiva
Que mora longe
Que demora tanto

Pouco importa o que fizeste de mim.
Importa é o que farei com o que de mim fizeste…

JP

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

PUNHADO

O vulgar da vida
Aperta a saudade que trago
Orvalha-me as pestanas, a nostalgia
Tendo a verter o grito ensopado
Deixo-o cair
Deixo-me cair
Deixo-me
Desprendidamente solto
Palpo com a ponta dos dedos o teu contorno
Decoro-te sentido no sentido
Ergo um punhado de ti em pó
Largo-te no ar e espero a sorte à sorte
Abates-te em mim de leve
Tropeças em mim na vida

JP

CREPÚSCULO

Nasce de mim a conquista
Virada de frente atacando
Retoco o vigor esmorecido
Espalho engodo para te distrair
E salvo-te em braços caídos

Dás de ti
Dás-te a mim
Dás

Distante daqui
Longe do adquirido saber
Iludimos ilusões
E seguramos teimosa e firmemente
A pálpebra da vida que teima em fechar

Teimo em ver e ver-te nesse lugar secreto
Onde o Sol ama a Lua no crepúsculo
.
JP

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

LONGE

Recolhes as nuvens e acendes as estrelas
Nesse dom divino que te apraz
Comandas com o pensar longe
A bonança que reina perto
No Reino distante que nos dita o sonho

JP

BEIJO POR DENTE

Areja o quarto pela fenda
Contamina os vestígios deixados
Ainda ecoam os gritos mútuos
Presos à parede nua de quadros
Quarentena compulsiva a que te sujeitas

Para que te servem os dentes, quando a vida que vives não é nunca mordida?
Morde como beijas, vá!

JP

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

SOMBRA

Em longínquo lugar
Onde vestimos o disfarce
Sabes-me tanto a pouco
Aprendeste a prender aos pés
A sombra presa a ontem

Serves o atraso em cálice
Ensurdeces no toque a dois
Brindas a nu sem beber
Amas em aperto o cristal que brilha
Fixamo-nos na mira sem pestanejo

Olhas no chão a sombra prometida à elevação
Assusta-nos a incapacidade de a levantar

JP

terça-feira, 5 de agosto de 2008

?

E esse segredo fechado?
Que sombra traz a chave?
Que revelação escondes?

E eu?
Terei eu o código?

Que guardas no fundo de ti?
Que força é essa?
Porque agarras o peito que se rasga?

Será tua a vontade?
Serás mesmo tu?

De que vale o que te vale?
Desejas que se decifre?
E depois?
Clamarás de peito aberto a abertura?

Eu temo abrir…
Temo abrir-te.
Eu temo o vazio…
Temo ver-te vazia.

O valor de alguns tesouros é desconhecer o seu interior.
Derreto nas mãos a chave para que não vingue a tentação.

JP

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

AROMA

Cheiras a maresia
Da mais vazante de todas
Aquela que se solta no enrolar
Que se prende ao inspirar
Que é travada como Puro Cubano

Sal de lágrima e pele
Cola de areia e de vento
Marcas de água e de sol
Olhos serrados de poente
Luz do ocaso em reflexo de Mar

Ver de longe o que de perto espreita…

JP

quinta-feira, 31 de julho de 2008

ESPERA

Em tacto de lã te apareço
Nasço-te vazio de mim
Entro sem licença em ti
Em busca do “eu” que aí deixei
Sentado à espera
.
JP

terça-feira, 29 de julho de 2008

CONTRIÇÃO

Afinal, na Palavra vive o final.
Desaforada como ela só,
Vasculha razões e doutrinas.
Põe tudo em causa por uma causa.
Não é o fim em si mesma,
Mas sim o dilatar dos princípios…
.
JP

sexta-feira, 25 de julho de 2008

STEADY

Voas em câmara lenta, lente.
Flutuas em terceiro braço
De carne a mais de mim feita.
Pinto de ti o tal quadro que cantas
Em escancarado diafragma…

Namoras comigo a sós,
Assumes comigo “nós”,
E danças-me, levando-me
Como íman que tudo contrai,
Da coluna à emoção.

Completas-me em verdade carnal,
Até em escuro te foco.
Escorregas no ar enquadrado
Como flor de grosso caule ao vento.
E bailas comigo, até ser dia…

Tanto peso e sigo sem te carregar,
Porque a mim me levas…

JP

quarta-feira, 23 de julho de 2008

IR

Vais levada pela agonia do sopro
És pétala caída, não arrancada
Perdeste a pigmentação até à transparência
Frágil te encontras, pétala.
Quem te viu um dia, em alicerce coroal, não esquece…

Eu, não esqueço.

Resolvo em mim, o desejo que nutro.
Ganha cor, vamos!
Fortalece-te fragilizando-te, pétala!
Descerra a seiva que te resta em paz,
E volta a envolver a coroa floral,
Que um dia brotou em leves partículas
Aromas quentes da pele
E cintilantes da água dos olhos

Não é o que aí vem que nos faz ir,
É o ir, que nos mostra o que vem de lá…
.
JP

domingo, 20 de julho de 2008

ESTRADA

Trinco-te em porção cavalar
Sorvo-te em desenho a tinta
Sangue sangrado de mim
Ilustras-te em tela chapada
Gastas-me a retina com novas cores

Entreabertos os olhos para te receber
Picados por cabelos ventilados
Vens comigo em viagem lenta e adormecida
Acorda-nos o travão do propósito
Devolve-nos o senso parado e vital

Pena é, que a estrada nos obrigue a curvar de quando em vez...

JP

sábado, 19 de julho de 2008

LER

Poros abertos para te receber, Sol.
Verga-me o corpo, por ti aquecido, à Mãe...
Tombo de ouvido na terra quente, e ouço o que o pulsar nuclear, tudo devolve.
Carrego, por ti, a luz...
Devolve-nos a iluminada verdade. Para que, na sombra de ti protegida, possamos brincar ao Sol, como nos maravilhosos contos, que nos povoam a lembrança acordada, de quando fomos meninos...
.
Que não haja força para virar a página, que não foi suficientemente lida...
.
JP

quinta-feira, 17 de julho de 2008

BOA NOVA

Revive a Boa Nova
Revisita o futuro meditado
Atesta o vácuo da incógnita
Rejubila o brilho renovado da vista
Que traz nitidez ao vestígio

Beija de perto e por cima
A aura que sopra
Aceita em vigor a festa
Treme em consciência
Pelo prazer prometido

Vem de leve ao encontro
Pontua em cada passo dado
Vem pesada em abraço
Sela em marca de água o embate
E vacila como eu vacilo no desejo

JP

terça-feira, 15 de julho de 2008

REDENÇÃO

Apontas livre o dedo que dispara.
Ignóbil pontaria,
Triste arremesso,
Sem que te feches em reflexão
Tentas o alvo.

Longe vai o tempo
Em que o arrojo vingava.
Em que a melancolia em forma de som
Te ilibava esse jeito que trazes.
Te abonava vida à ausência.

Vales só o que pelas costas te dizem em surdina…
E nem te dás conta,
De como te passa ao lado,
A frente de quem te fala.
Trazendo areia, à praia que ajeitas…

JP

ALTO

Gritem, vá!
Alto.
Mais alto!
Projectem no grito, sangue contra a parede.
Não parem até que derrube.
Há-de ceder.
Sinto.
Olhem a brecha que cresce…
Vejam a abertura que nasce para celebrar a liberdade.

Melhor que saltar o muro, é transpô-lo por nós vergado.
Cai de vergonha.
Derretem-se os alicerces armados,
Vencidos pela poesia desafectada.
Vem de manso o derradeiro tiro de lá.
Sem colete o recebemos, pela certeza de ser indolor…
.
Vivam todos aqueles que leram alto!
.
JP

domingo, 13 de julho de 2008

Desta vida, cedo morro.
Quero que as cinzas de mim queimadas
Ardam sem fumo nem fogo no ar.
Que ondulem em forma de vento
Por ti largadas, em rede de mãos cedidas

Quero, em sufoco, respirar-te em vida.
Tocar-te em língua a paixão.
E depois sim. Aí sim!
Depois, que venha a puta da cinza,
Desfazer em pó de fim
A pedra que marca o começo...

No dia em que for pó,
Que seja este o verbo que me leva.

JP

RASGO

Rasga-se o tempo em receio
Na gargalhada se esconde a inocência
Vertes o sabor ateado
Por ti aquecido em ardor
Surges de negro luminoso abrasando a chama

Rasgas-te sensual em apatia
Beijas de longe o desejo
Encontras na redenção
A salvação pecaminosa
Sabes a Deus redentor vestido de prata

Rasgas-me a pele
Em desejo perverso
Perverso de tão atento
Limpo de amargura
Que nos seca o céu da boca e da vida

JP

quinta-feira, 10 de julho de 2008

SINAIS

São estes os momentos!
É aqui que se bebe o elixir,
Que se aprofunda o que no fundo bateu.
É aqui que a evidência surge
De lantejoula ofuscante.

Aumenta-se, assim, a cegueira de quem já via…

Brilha o reflexo,
Em água de chuva pintado
Nas telhas molhadas
Que nos cobrem a ilusão,
De algo que poderia ter sido…

Atenua-se, assim, a espera de quem já lá chegou…

Lembra-te do que te disse um dia.
Pelo poder do afecto, recorda.
Quem sabe se não precisarei, um dia,
Dos dogmas que outrora fiz bandeira.
Das cores que me pigmentaram a ideia.

Protela-se, assim, a dúvida de quem já esqueceu a certeza…

JP

segunda-feira, 7 de julho de 2008

VACILO

Vacilo quando me dizes que voltei
Quando alegas o sorriso
Quando me olhas
Quando puxas com os teus os meus olhos
E o meu, ao teu olhar, lhe dá razão

Vacilo quando me pedes a pele cerrada
Quando apertas e empurras
Quando pedes e despedes
Quando se faz tarde em mim
E cedo te apressas à reconquista

Vacilo quando estás a mais
Quando vens de menos
Quando te quero por não te ter
Quando não te vejo por tanto te ver
Vacilo por de ti tudo ter

JP

domingo, 6 de julho de 2008

LUA

De regresso na estrada
Fumo um cigarro em cada portagem
Trouxe comigo a Lua
Que se engrandece a cada quilómetro
Abrando para atrasar a subida

Já vai alta na noite que comanda
Empurra o Sol que já só espreita
Encanta-me a chegada
Sussurra-me cheia de segredos
Deita-me de mansinho no seu seio

JP

sexta-feira, 4 de julho de 2008

PENSAMENTO

Perder o pensamento vão,
Vazio em ideia e linha.
Vaguear sozinho, somente.
Braço dado à sombra
Só porque essa não trai…

JP

QUADRO MINIMAL

Raiz de fora com caule para crescer
Daninhas de dentro cavam terra
Vetam água de rega
Impedem que lhe chegue o sol
E esquecem que já foram sementes, um dia

Ignóbil conduta.
Desilusão, a minha…
.
JP

terça-feira, 1 de julho de 2008

VOZ

Canta sem palavra
Vocaliza só
Desenha a frase
Vibrando os lábios
Timbre alto a que chegas

Pausa Maior que paralisa
Sustém o respirar
Cessa a nota em sintonia
Fecha a boca em sopro
Cantas como quem se despede

Emocionas-me...
Perturbas o tranquilo.
Que bom...

JP

segunda-feira, 30 de junho de 2008

SOSSEGA

Não dou o flanco
Não desfalco a conduta
Dura pele envergo
Finalmente defendo
Esquivo-me facilmente de ti

Vem tarde a verdade
Atesta de longe na lembrança
Nego-lhe a razão no presente
São sombras negras frustradas
Não acompanham o real movimento

Tarde para que me queiras
Cedo para que me desvies
No fundo de mim respiro
À tua tona oxigeno
Ar que bebes porque vives

Resta pouco de mágoa em mim
Evoluo em cada inspiração
Pontapeado pelo que expiraste tu
Apaga a luz agora
Sossega em escura memória

JP

sábado, 28 de junho de 2008

FOME

03:30 da manhã.
Vencido pela fome de lua, largo-me de carro à estação mais próxima.
Peço uma sanduíche mista e plastificada. Como-a ali, empurrada por uma cerveja…

Toca-me de leve nas calças, uma mão envergonhada.
Não tinha mais que 10 anos. Olhos grandes e negros, roupa suja e gasta, calçado descalçado, cabelo ruivo de cor ou de lama, rosto negro de sol e de rua, boca fechada de fome.
Diz-me com os olhos e com a voz “Quero comer”.
Morri.
Dei-lhe, claro está, tudo o que o seu pequeno corpo aguentou.
Fiz-lhe mil perguntas. Não respondeu a nenhuma…
Questiono a funcionária se sabia quem era. Responde-me com a mesma frieza do postigo que nos separa “Tem estado aqui”.
Tem estado aqui? Tem 10 anos, merda! Não pediu dinheiro. Pediu comida!
Não sei se a fome lhe veio no intervalo do negócio fiscalizado de longe pelo pai ou pela mãe escondidos…
Para mim era um puto com fome. Os olhos não mentem.

Chamei a polícia.
Breve espera e chegaram. Irrepreensível conduta, de resto. Com ternura na voz e no gesto, lá fomos…

Tinha fugido de casa.
Família de Leste carenciada.
Só de lá saí quando veio o pai.
Igual ao menino em escala maior. Tremiam-lhe as mãos no abraço. Olhos esbugalhados e secos. Esbugalhados pelo álcool, secos por não chorarem há muito…
Recebo um aperto, firme, da mão do pai.
Beijo o filho, em troca de um olhar que me perseguirá sempre.

Soube depois, que esta é uma situação reincidente…

São 05:20
O Samuel não dorme com fome nem ao relento, pelo menos esta noite…
Eu regresso, em triste silêncio, a casa.

JP

sexta-feira, 27 de junho de 2008

OUÇO-ME

De facto tendo, excessivamente, a escrever na primeira pessoa do Verbo. Não controlo o exercício, confesso.
Sou, como que possuído. Encerrado numa força que não derroto. Nem tento.
Pára-me o cérebro e escreve só o corpo. Sozinho e vencido...

Dou-me conta só quando me leio.
Mas dou.
Não sujo folhas brancas só porque estão nuas.
Não escrevo a calendário.
Rabisco quando entro, distraidamente, em agonia desabafante…

A questão é que, de facto, desabafo.
Alivio a peso de letra, o peso que trago.
Transbordo de mim em cada palavra.

Não me levem a mal as repetições em figura e estilo, mas é tão bom conversar comigo.
Ouço-me.
E é só isso...

JP

quinta-feira, 26 de junho de 2008

COR

Acordem a meio de qualquer noite
Batam ensurdecedores metais
Chamem-se alto para que se ouçam
Corram descalços a rua conquistada a medo
Agora é nossa por olho e dente

Que se acenda de vez a luz
Que se revelem as esquinas
Que o apalpar do avanço
Traga abraços de menos
Assim se avança sem medos

Vinga a cor prometida
Tantas vezes apetecida
Colorir a ausência castradora
Vem quente de verdade
Arrefecer a antiga vontade

JP

terça-feira, 24 de junho de 2008

ABRAÇO

Agarra-me forte em punhos
Que não te cheguem os braços
Que o abraço gigante
Se perca por tacanhez

Restará, em cofre, a força que os teus dedos envergam.
Não me leves a mal a liberdade que me dita.
Afinal, por ela te encantaste…
.
JP

segunda-feira, 23 de junho de 2008

SOL

No vale da história
Afloras-te à superfície
Vens dourada de luz
E cegas-me o caminho

Arde-me a pele enxugada pelo sol
Seca o chão gretado e gasto
É nele que me deito

Plano macio e terno
Elevo-te em mim amarrada
Subimos ao sol de almas ligadas
Derretem-se as asas
Na queda outras renascem

Fica em mim colada
Assim dourada
Ilumina a viagem sem destino perto
Ardemos no frio do vento que passa
Apertamos nas mãos amor firme

Pára o vento
Pára a queda do sol
Como nuvem branda e branca
Ficamos embalados em nós
Leves e firmes como o sopro

JP

DESEJO

Teimoso, fiquei.
Perduraste comigo o momento.
Estamos, irremediavelmente, em franca adição…

Apertamos a distância com uma fácil lembrança.
Cai, lento, o denso véu da vergonha.
Desnuda, matando o remorso, aquela noite…

Subimos ao alto de nós, puxados em escalada louca, pela mão do desejo…

JP

AGUARELA

Não me deixes, na história, assim…
Tens de partilhar na interpretação,
A voz que te traz a mim, nua.
De mim, por ti, vestida...

Temo, ciente, o que te agarra,
A mim e a ti, na crepuscular visão de nós…
.
JP

domingo, 22 de junho de 2008

LOUCURA

A noite não chegou a cair…
Despi-te com o verbo. Passámos juntos à distância, a noite prometida.
Voaste, finalmente, comigo.
Pintámos em aguarela o eterno segredo…

Agora, sei-te de cor.
Senti-te o sal.
Cheguei a esperar por ti, lembras-te?

Estarás, sempre, em cada intervalo da realidade.

Escreves, comigo, este conto secreto e louco.
Ainda ouço, em câmara lenta, o teu “suspiro sorridente”, que me manteve acordado… Até agora.

Espero-te no próximo sonho.

JP

GUARDA-TE

Terminamos, a medo, o que nem começou.
Castramos a hipótese.
O receio da luz queima o escuro vivido por nós, nas muitas noites de prazer que temos tido em devaneio.
Sabes-me a pretérito, trajado de paixão, na manifesta vontade que tenho de te querer…
Vem a redenção da lucidez, envergonhar o desejo que comungamos.

Sabes-me a vida que, nem sequer, cheguei a viver…

JP

PRINCESA

Guardarei, para sempre, uma franja aquecida de ternura no meu peito para ti…
Cresce como sorris.
Vive dançando.
Passo a passo, abraça o Universo que te pertence por direito.

Trazes nos olhos, um brilho que engole o Mundo…

Parabéns, Princesa!

JP

terça-feira, 17 de junho de 2008

FUNDO

Dentro, muito dentro…
Onde se juntam as vontades.
Onde se trocam carícias desapertadas…
Lá, onde nos abraça a afeição,
Livre e leve como o paraíso.

Penetrado em mim, de ti retornado,
Frente ao relâmpago que nos estimula.
A vontade de ser brisa, que sopre o pulmão emancipado…
Esticam-se as velas,
Insufladas de audácia e ar, puras como o destino que anseio.

Dentro, tão dentro…
Vejo a segurança do chão.
Chão que não deixa pegadas…
Só eleva a transição, por mim passada,
Ao encontro de nós, levitando na paz…

Carne e sangue primários,
Puxam a razão terrena…
Deixarão sempre, a vontade…
Restará sempre,
A liberdade de querer de mim, o que muito bem quiser,

No enredo perfumado dos teus cabelos...

JP

TRONO

Já não me sabes a ti…
Desfez-se no viver, ao que sabias.
O eco repete-se em mil palavras,
O trono a que cheguei
Por ti afamado…

JP

segunda-feira, 16 de junho de 2008

PIANO

Muda-se a tónica
Eleva-se o sentimento
Sobe-se a oitava
Dedilham-se os sustenidos
Vacilamos por dentro e fora, a viagem vibrante…

JP

NOITE

Se calhar é tarde, mas queria mesmo falar-te…
Ensaio com firmeza o calibrar afectivo que nos une.

Temos apenas esta noite para que o amanhecer traga sol. Restam breves raios de luz, até que atordoemos. Vencidos pelo vil engodo da armadilha…

Assusta-me o teu negar ao sonho.
Sonha! Sem barreiras, nem entraves.

De facto, quem precisa do amanhecer, quando a noite nos traz o sonho. Feito de tudo aquilo que o desejo acordado amealha até aos lençóis.

Vou adormecer…
Quero que o despertar seja lento. Prolongando a elipse diminuta, onde nos lembramos o quanto fomos felizes durante a noite sonhada…

JP

ACABARAM

Findaram-se os dias de pequenez, em que a carícia surda me alimentava…
Esses dias acabaram.

A meio da idade da era, incredulidades se avolumam em mim… A era do descobrir, desvendou-se.
Esses dias acabaram.

Só eu, em mim me logro. Me aceno em placas, o caminho a seguir.

Foram-se.
Esvaíram-se no recordar, os fantasmas vestidos de mim, sem que os envergasse…

Esses dias acabaram.

Agonizaram-se, as dores tombadas. Por vezes, por ti tomadas… Na tentativa estéril, mas nobre, de me minimizar o impacto do retorno.

Na dureza do cru, te digo:
Acabaram-se, esses dias.

JP

sábado, 14 de junho de 2008

QUEM SABE?

A injustiça da vida, desfolha a folha que o tempo da vida não permitiu ser folheada…
O epílogo traz de volta o beijo perdido. Nós, vestidos de escuridão numa rua guardada da Guarda.

Recordámos, esta noite, o “beijo-menino”.

Protelamos, assim, o bailado de línguas inexperientes, até aos nossos dias.
É o beijo desprendido.
Livre de votos descabidos, face à clara vontade que temos de nos beijar de novo...

Acontecerá novamente, contrariando aquilo que deveria ser. A vontade de nos sentirmos vivos, ultrapassa a conveniência do “vivendo”…

Na tontura do futuro, imagino aquilo que seria, se o teu sabor ainda me povoasse o palato. Se os corpos, ainda hoje, descobrissem no tacto, as curvas que só a lembrança nos traz vertigem.

Quanto mais sinto saudade, mais arrependimento se soma, às falhas cobardes do passado…
Mais se diminui, a convicção de enfrentar o tracejado vivido.
Prendes-me ao teu encanto, sem que te dês conta…

Cheiro-te de longe, no silêncio que te vem da boca…

JP

sexta-feira, 13 de junho de 2008

AMAR

Seduz-me o cheiro a que não sabes que cheiras.
Só de perto, muito perto, perfuma…

Não controlo a proximidade. As minhas aletas empurram-te a pele, em pontos estratégicos que só o meu nariz descobre.

Cheiras a libido, a vida… Cheiras a ti, misturada comigo…

O aroma intensifica-se à medida que atraso o encontro.

Já não cheiras. Irradias, simplesmente. Irradias o alucino delirante que nos eleva aos céus.

O cheiro, volta a sentir-se depois, envolto em toalhas que vêm apagar a viagem…

Fico-me com o cigarro essencial que corrompe a fragrância.


Foi bom, para ti?

JP

(RE)NASCER

E o Tesouro já dorme. Sossega no baú, o ouro que o cobre.
Espera, fragilmente adormecido, a última festa e o beijo que lhe traz a noite…
Vou, pelo aroma de mim, olhá-lo de perto e fechar a tampa do repouso sagrado, desejando que amanheça como adormece… Candidamente fresco, inundando-me de vida.

Tens na boca, o gosto amargo do silêncio
Procuras o grito aflito que não sai
Ajustam-se, assim, as contas por fazer
Infrutífero o esforço a que te esforças
O silêncio berra, pelo barulho opaco que irradias...

Vasculhas-me a pele assanhada
Buscas a fragrância ludibriante.
Agasalhas no calor de ti
O frio que tempera a solidão povoada

Manchas de vermelho vivo
A incerteza do que há-de vir…

Se eu não fosse assim, não contemplaria desta forma, aquilo que os meus olhos me oferecem. Recebo o sinal evidente que ateia a escuridão…
No detonar explosivo do fundamento, resolvo os pretéritos malignos, no alcance do amor mais puro. Aquele que, quem provou, ainda sente na boca o hipnótico sabor que só o cristalino traz.

A melhor forma de amar, é aquela em que, o Amor passa a Paixão… Revivendo a ignição apaixonada que o fez nascer.
.
JP

VOLTO

Volto.
Porquê?
Porque sim.
Porque me pede o corpo...
E então?

JP

domingo, 25 de maio de 2008

100

Este, é o derradeiro centésimo desabafo da aventura, contando com o aconchego que dá título.
.
Fuga ao real que tantas vezes nos abalroa…

Valeu PAPOILAS!
Vesti-me, despindo-me.
O alcance centésimo, fez-me recordar a promessa há muito feita, que só honra o desabafado…
Vou, de futuro, lendo-me.
Em cada passo que resvale, procurarei nas minhas, as palavras que contarão narrativas vividas dos que ouvem e calam, como a chuva...

Mesmo os lírios curiosos, que não Papoilas, continuem…
Continuem em busca da luz escura, que há-de brilhar, um dia.

Esqueçam-me lembrando-me, em cada flor que cheirem…

Até sempre, Papoilas.
Eu seguirei firme, em busca do ópio que polvilhe a vida que derrapa.
.
Serro os dentes colossalmente. No hino da força, o ouvido rende-se e ouve só o que o fácil vai tocando...
.
Não tem de ser assim.
.
O Vento continua a segredar, soprando. Juro.
.
Até sempre...
.
JP

TRANSPARENTE

Desdobro goma dura
Em asfalto longínquo
O caminho que falta percorrer
Sinaliza o caminhado
Demito-me de me ver, para que me veja…

JP

CONTAS

Estou a ver. O cinzentismo impera-te…
Negas a aproximação ao que vive.
Preferes o “vivendo”.
Muito bem… Assim seja.

Que o pulsar movido a afecto, não te esmague o anseio.
Que a futilidade não te impeça de te mereceres…

Porque a mim, já não me mereces.

JP

SUSTO

Gritos de ausência
Na crista do Mundo
O susto do escuro temperado
A paz que vem da luz crua
Não te ter por não te querer

JP

VELA

Na vontade que trazes escondes o desejo… Assim pecas por não te permitires o pecado.
Só há negligência quando nos traímos a nós próprios. Quando não... É justiça.
Só se vê verdade com os olhos abertos, quando as pálpebras fechadas transparecem.
Vejo tão claro, agora.
O suspiro profundo também empurra a vela. E, por vezes, para a frente.

Desviem-se!

JP

terça-feira, 20 de maio de 2008

E?

Encontrei-te, finalmente.
No filamento de mim, surgiste.
Matas-me, assim, a sede que me tem algemado, na odisseia que deseja o fim da quimera.
Na passagem dos créditos, mantenho-me preso ao assento, para ler até ao fim, quem segurou firme a batuta que orquestrou as notas da minha banda sonora…
Nota sim, nota não, surges nítida e nua.

A firmeza de linha traçada, transformada em definitivos arremessos contra a minha própria existência.

Já viste como a cor é muito mais fiel ao sabor do breu?

Bem vinda ao Mundo que, de facto, te pertence…

JP

PERFEITO

À luz do sonho
Fotossíntese que devolve o autêntico
Sem sol não há vida
Raia perdido, este feixe
Procura o reflexo entre desvios oportunos

O pretérito perfeito, eleva o futuro…

JP

sábado, 17 de maio de 2008

VAZIO

Deslumbra-me o proibido
Na clareza do que foi escuro
Encarei-te com a convicção firme de ser inabalável
O que não sacode não se faz sentir
Fere-me de leve a brandura do desejo
.
Desencaminham-me os poemas lidos
Ou escritos na folha-esponja
Detenho-me no detalhe de indagar a descoberta
Chocalho as palavras vazias
Tempero-as de vida para que me derrubam cheias
.
Deixei, simplesmente, de me lembrar que te esqueci.

JP

CÉU

Tu, que esperas que caia a chuva fria, para que te molhe o rosto gelado e a transformes em sal de pele… Seca-te já. O tempo que faz é de sol.

Diferente por ser diferente. Ou porque me antagonizo ao que me enternece, ou porque me rendo aos ensinamentos do vivido.
Está na altura, para ti também, de olhares para cima e veres que as nuvens se dissipam, deixando esboços no céu, finos e deslumbrantes…

Desenham-te, as restes de melancolia, em sentido traço, a beleza que te compõe…
Desprende-te do que move os “outros” e recupera o combustível vital que tem, fatalmente, de imprimir progresso à vida que te agoiro tão bela…
.
JP

sexta-feira, 16 de maio de 2008

FADO

Do vibrar das cordas de uma guitarra, choram palavras. É a música falando em verbo para eu ouvir... Aqui sim. Aqui o egoísmo impera. Defendo esta faculdade de habitar no intervalo do vibrante.
O Fado é Sina. Bastaria o diminutivo da Matriarca, para ler escrevendo “Sina”, venerando…
A sorte pontua venturas.
Povoar o vazio, enche preceitos. Alarga o gargalo para que liberte o nocivo em repuxo.

Nem sempre o recordar é viver. Por vezes, o recordar mata… Morte renascida da tumba, esperando de novo por alguém que me abata certeiramente e que mantenha ao alto os braços defensivos de quem profetiza o ataque emocional que constrói a estratégia que me ataca...
.
O alvo mantém-se, recordo.

JP

quinta-feira, 15 de maio de 2008

AMPULHETA

Uma simples melodia
A língua bate no céu-da-boca
Marca o tempo e o passo
Ao passo que o tempo não marca
Vai simplesmente passando

Fossiliza Passados enquanto passa
Petrifica Presentes à sua passagem
Em permanente adeus
Acena despedidas partidas
Cumprimenta chegadas que estão à porta

Passo a passo no caminho
O tempo marca o tempo
Ampulheta não calibrada que engana
Areia que sobe na gravidade
Presente sujo pelo Passado

JP

segunda-feira, 12 de maio de 2008

AGONIA

O vazio da ausência
A recordação que me acompanhou
O dia que chega ao fim, finalmente
A liberdade de pestanejar
Sem que te lembre só no escuro

Gosto de te ver cheia de luz.
Os dias não deviam ter marca…
O calendário consome.

JP

PARABÉNS, MATRIARCA!

… Uma salva de palmas!!
Levanto-me para te aplaudir, levantam-se aqueles que conheces, rendem-se os que te conhecem… Já estavam de pé os que te agradecem.

Fazes-nos falta, a todos.

Vejo, como tu em menina, os lobos que, de repente, já não são lobos, são leões e tigres como nos contos…

Estes são os olhos por ti paridos, que brilham na esquina escura, palpando no vazio… assoberbando na clareza.

O que te irritava enerva-me a dobrar. Assim te evoco permanentemente. Assim me acompanhas, balizando os princípios de ti recebidos, acautelando os fins oferecidos à vida que tantas vezes é loba em episódios de sobra…
.
O azul, por ti em aguarela pintado, desbota à velocidade da lágrima... Do céu caem relâmpagos, por vezes...
Sim, eu sei que me relembras regularmente a conduta... Mas quero o céu limpo de tormentos.
Quero seguir sólido, qual quimera de prata em busca do ouro…
Egocentrismo? Não… És só tu em forma de vento, a acariciar-me o cabelo.

Vou, pelo pólen que nos move comovendo, continuar a acreditar que é possível.
.
Mantém-te à frente, iluminando-me o caminho com a saudade que te choro...
.
Parabéns, Mamã!

JP

sábado, 10 de maio de 2008

MARCAS NA AREIA

Uma tarde de praia no meio do vendaval. A vontade que trazias ultrapassava qualquer entrave. Fomos, então…
No vazio da areia, os passos vincam mais profundamente.
Correste com a liberdade que te fez, sorriste com a magia que trazes… Como voo de gaivota, sempre contra o vento, venceste a costa rumo ao Norte…
.
Regressaste extasiado, vestido de areia, coagindo-me à promessa de voltarmos amanhã.
.
“Sim, voltaremos. E hoje adormeceremos de mão dada outra vez… “
.
JP

sexta-feira, 9 de maio de 2008

ASA

Cerco o vento relativo
Exacerba-me a brevidade
Já daqui a umas horas
Serei largado no ar
E juntarei à meia, a outra que me falta para ser Asa

JP

quinta-feira, 8 de maio de 2008

EXPLÍCITO

Vives como quem se despede. Alimentas os dias com a podridão da mentira. Tens tanto trabalho em te afirmar para os outros, que te esqueces da afirmação de ti própria…
Vais, assim, minando o futuro com dispositivos que a noite detonará.
Não te apercebes, claro. A mentira contada muitas vezes, passa a ser verdade até para quem a conta, vivendo-a…

Eu não conhecia a iniquidade, até te conhecer. Obrigado… O que é Belo ganhou outra dimensão e detecto o malabarismo emocional à distância de uma respiração.
A profecia cumpre-se...

JP

segunda-feira, 5 de maio de 2008

INEM

No crepuscular olhar do tempo sobre as coisas,
Desfocamos a nitidez da vista…
E vemos névoa brilhante de fogo.
Que arde, que me arde, que me queima
E sinaliza o percurso de urgência.

Desafias-me no verbo
Não nutres dúvida no sucesso,
Suportas-me a vida sem chamada,
Garantes-me o desfibrilhar que bombeia
Sangue Sangrado, que não tem de ser Bola Preta*

Ressuscitas-me, vivendo…

Bum Bum... Bum Bum... Bum Bum... Está a bater, juro!
Leva o teu suporte daqui porque me reanimaste...
Assim me juntas à vida de tantas vividas, que só não se perdem, porque tantos como tu, as encontram...
E me afogam de orgulho.
.
És um deles. Dos que salvam...
Dos que se comovem no escuro
Em cada vida que trazem,
Em cada Bola que se aclara
Na distância que teima em não se encurtar...
.
Por vezes, chegas a tempo. E isso vale tanto, SALVADOR.
.
Basta que uma regresse, em cada mil que não.
É sempre uma que... Bum Bum... Bum Bum... Bum Bum...
.
*Gíria dos que salvam para se referirem aos que a distância ou o inevitável ou ambas, não permitem salvar.

JP

AFECTO

Queria muito que dissesses Sim, para ter o prazer de te dizer que Não…
A negação feita justiça em forma de encontro.
Eu explico:
Era uma vez Um e Um. Na vertigem surgiram Dois, em surdina fomos três, ou quatro…
No meio do malabarismo emocional de Um, um de nós caiu. BUM!
Agora o tombado já não é Um, é Dois… É Ele e Eu.
Pluralizamos o afecto, recebemos a mentira conveniente feita verdade, como filtro vital do incerto que te inquieta.

A meio da noite, de uma noite… Deixei-me agarrar.
“Olá, mentira. Vens-me aclarar? Deixa lá. Antes tu de traje, que a tal da verdade nua…”

É só um pesadelo, como tantos outros sonhos.

JP

DOR

Amigo,
.
E quando, de repente, o repente te trai? Te apanha despido no meio de tudo, vestido entre nada?
Depois vem a dor… que tem de doer. Sem que a sintas não a resolves.
Tem de ser…
Encontrar-me-ás sempre que te perderes.
Dói porque te sentes. Cura-se porque te sentes, também…
Abraço forte,

JP

sábado, 3 de maio de 2008

PIRÂMIDE

Encostado ao lado obscuro da Lua. Ia sendo…
Não foi.
E orgulho-me de não ter sido.
Demasiado lodoso…
Não tem a minha cor.

Aventureiro, sim. Mas tem de haver alvura para que mergulhe…

Quando o beijo te engana, segura-te à carícia.
Transita mimos desprendidos…
Vive da carne, só por ser carne.
Cega-te para além do vislumbre
E limita-te ao contacto.

Não há lado obscuro da Lua. Na realidade, toda ela é obscura…

JP

quarta-feira, 30 de abril de 2008

CONJUNTIVO

Vibro como cana ao vento
Sacode-me a intenção que trazes
Comove-me a meta a dois
A testa descolou, finalmente, do espelho
Caminho errante… mas apaixonante.

JP

terça-feira, 29 de abril de 2008

CLEAR FOR TAKE-OFF

Incendiei o voo. Seremos dois, agora.
Nada nos deterá! As asas batidas a dois voam melhor…
Prepara-te para a aventura. Superará o mais alado dos sonhos, acredita.
Juntos, homenagearemos com a proximidade, a Raiz de Nós.

É na troposfera que acredito haver quem viva no Céu, quem brinque nas Estrelas, quem se deite na Lua…

Também vais acreditar, Comandante.

JP

segunda-feira, 28 de abril de 2008

EPÍSTOLAS

Não me decifres. Lê apenas…
Distancia-te de mim,
Revê-te nas epístolas.
Não me materializes.
Esquece-me, lembrando-me...

Sei que a continência da génese
Impera, como religião.
Ateia-te à fé!
Mastiga cada letra como sendo tua.
Continua a busca… Não tarda, a réplica.

JP

TÃO BOM

Olha nós, tão bom…
Foi, não foi?
Intensificámos tudo, não?
Bebemos luz do breu.
Os olhares foram “G`s”, não foram?

Foram...

O melhor Passado
É aquele que o Presente receia lembrar.
Escondendo memórias
Em códigos indecifráveis.
É o enigma existencial da lucidez da Vida…

Egocentrismo em forma de argumento,
Escondendo o Amor com Carácter de Urgência...

Perdeste.
Ganhei eu...

O prémio é o Carácter.
A consolação é a Urgência em o encontrar...

JP

sábado, 26 de abril de 2008

MP

Porque te secas quando tudo à tua volta te espirra?
O brilho que tens como arma, tudo derruba.
És grande e belo.
O Mundo está apenas à espera de se diminuir, para que a tua mão o aperte…
Vai acontecer.
Este é um dogma inquestionável…
Basta olhar para ti.
Tens o raro dom de transformar com a visão, o desejo em verdade…

Vem-te das raízes,
Que regarei eternamente…

Vales-me a vida…

JP

sexta-feira, 25 de abril de 2008

DESCULPA

Chega de gente nas ruas. Chega de olhares vazios condenados ao horário.
Agora paro o tempo que for necessário para que o estranho se apresente…
É a avidez do “Quem és tu?”.
Afigurem-se, vá!
São cada vez mais. Nascem como cogumelos…
Afirmam-se na ausência que não me comove.
Para sentir há que me sentir, de facto. Há que me tocar.
Não me espiem! Abordem-me.

A presença envergonhada mata a disponibilidade.
Não tenho paciência, desculpa...

JP

LUZ

A salivar a expressão
Única e derradeira
Vírus possante
Determinado à perpetuidade
Consumo o anticorpo porque existe

Está em mim camuflado
Agarrado à dor dispensável
Que perdura por insistência
Que é inversamente proporcional
À paz que me nutre

Por vezes, há que apagar a luz para ver claro….

JP

SEMPRE

Hoje, todas as Papoilas são Cravos.
Sou filho de Abril…

“…Sim, sempre!... Viva!"
"Um beijo e um Cravo. Vou ligar aos manos.”

Sim, Mamã... liga. Reabastece-os de Liberdade,
como me atestas a mim...

JP

quarta-feira, 23 de abril de 2008

ELOGIO

Abre as mãos para ti
Olha-te profundamente
Obriga-te ao elogio
Junta as mãos e aplaude-te
Já viste como és deslumbrante?

As respostas vêm como o vento
Sopram inesperadas
Para te sacudir o cabelo
E te acariciarem o rosto
Enxugando-o…

JP

segunda-feira, 21 de abril de 2008

SONHO

No exíguo espaço temporal em que se lembram os sonhos, vivem as Fadas…
Disseram-me em menino, nunca esqueci.
Hoje, é aí que os esqueço.
Lembro-os com nitidez, apagando-os...
Morrem as Fadas e renascem na manhã seguinte.

JP

TIRO

Em quimera efervescente
Numa leva aventureira de trocas
Espreito nervoso o tiro
Fico entre a arma e o alvo
Não saio, para que me fira.

A dor elogia o alívio…

JP

domingo, 20 de abril de 2008

VIDA

“Tenho-te lido, e quero saber se estás bem.”

Não se nota?
Serei só eu a perceber?
Ou será que só eu, não percebi a profundidade do meu mergulho? Perdão, empurrão.

Haverá alguém que me vê mais frágil do que realmente sou?
Amedronta-me...

Tranquilizem-se, Papoilas. Estou melhor que nunca.
Vitaminei-me, nutri-me, fortaleci-me.

Estou pronto para outra.
Sim, para outra...
Não sendo assim, estaria morto...
Nesta batalha, o troféu é a brecha prá Vida...
Venha ela!

Durmam!
Acordem limpos de angústia, como eu acordei...

JP

sábado, 19 de abril de 2008

QUE PENA

Incidente geográfico,
Encontro crepuscular.
Consagramos, em conjunto, afectos…
Molho-te enquanto me secas.
Tem mesmo de amanhecer?
Que pena...

JP

sexta-feira, 18 de abril de 2008

LAMENTO

Chamaste-me?
Diz.
Como?... Eu?... Não.
Jamais.
Eu não sou assim… O espelho da utopia já lá vai.
O reflexo é o meu, de facto.
Só pode haver um engano…
Lamento, mas fui detonado pela verdade.
O dia voltou a ser luz e a noite regressou ao escuro.
Explodi!
Não é comigo, lamento...

JP

quinta-feira, 17 de abril de 2008

FUSÃO

No mais fundo de ti,
Falhei.
Aperto-te em moldura junto ao coração...
Beijas-me como sempre,
Absolves-me sorrindo...

Pedes-me o impossível,
Vetas-me os movimentos,
Obrigas-me a promessas vãs...
Condenas-me ao logro
Que jurei nunca mais viver.

E agora?

A Lua já vai alta…
Antagonicamente, recebo sol nas pálpebras fechadas.
São as carícias da noite que me visitam.
São os dedos-seda do sono,
que me garantem o sonho policromático...

... Adormeci.

JP

terça-feira, 15 de abril de 2008

MORRICONE

Um Deus na Terra
Génio da simplicidade
Em cada nota um fotograma
Em cada harmonia uma viagem
Não compões, reparas…

JP

XADREZ

Fecho-me, em mim... E é nesta clausura que sacudo o sonho, em permanente metamorfose.
Depende directamente daquilo que os olhos vêm acordados.
Depende directamente daquilo que me adormece...

Não é o sono que me deita. É o cansaço...
Deita-me a teimosia sequiosa, de quem artimanha a próxima jogada.

Já tenho a Torre na mão, jogas?
É a tua vez...

JP

domingo, 13 de abril de 2008

FILAMENTO

Tonturas. Sinto tonturas.
Sou trapezista no filamento da vida em dois pólos.
Fibra inflexível, quebrável ao mais ténue passo em falso…
Um dos lados terá de ceder,
Para que tombe e me levante… para subir de novo.

JP

ELEMENTOS

Estou eufórico. Vou regressar ao fundo do Mar… Que vontade.
O Mar não é permeável às vicissitudes da superfície. Tem esta capacidade. A mesma com que me brinda o Ar…
Não sou nada Terreno, de facto. Pertenço ao Mar e ao Céu…
São estes os meus elementos.
É neles que quero viver…
Será neles que vou morrer.

Sou Antípoda na minha própria existência…
.
JP

sexta-feira, 11 de abril de 2008

RESTOS

Panorâmica em vertigem…
Visão desfocada...
Descarrilamento em lume ardente.
São desígnios, senhores…
Calma.
São só desígnios…

JP

quinta-feira, 10 de abril de 2008

POR UM FIO

Capa negra, escondendo a ruborização,
Dobras a própria vida, à força.
Não a engomas, não a lustras...
Amachucas o tecido essencial.
Fias, envergonhada, a seda que envergarás.

JP

quarta-feira, 9 de abril de 2008

TU

Não te atrevas a chorar!
Não te vistas, assim, de angústias.
Abraça-me visceralmente,
Deixa os olhos abertos,
Para que possa emergir da magia que me traz esse azul...

JP

JUNIOR

Limpa as lágrimas, veste-te de Pétalas e vem...Enfrenta comigo, o Mundo Perdido que nos tempera a vida. A tua força sempre me comoveu… Também tu, és luz, que me ilumina os passos cegos.
Para quem, como tu, está tão perto do brilho.

Não te apagues. O teu fim potenciaria o princípio do meu…

Também te quero, muito e há tanto…

JP

terça-feira, 8 de abril de 2008

VIAGEM

Bebedeira de juízos…
O enquadramento são mãos,
Mãos que apertam, afagam, embalam…
Plano pormenor da despedida,
Abraço forte que dissolve.

De partida para longe, tão longe…
Não há lugar para ti.
Vou só eu comigo,
Sento-me ao colo de mim…
Conto-me histórias.

Histórias pintadas ali,
Com finais convenientes.
Não há tempo para análises.
O futuro, vem ao ritmo das imagens,
Como estas, que mal se focam pela janela…

JP

FORTALEZA

Parabéns Irmã. Amo-te incondicionalmente. Transbordas-me de ternura em cada gesto teu… Alicerças-me a vida. Rasgas-me o véu que teima… Encontras-me sempre, em cada passo perdido.

Parabéns, Fortaleza!
Quero continuar a viver rodeado pelas muralhas que teias em redor dos que amas…
Nem te dás conta que o fazes, pois não, amiga?

Mas olha que o fazes…
Continua, por favor, a brindar as nossas vidas com a tua presença.
Amo-te.

JP

segunda-feira, 7 de abril de 2008

MUTAÇÃO

Não mastigo, engulo
Não toco, agarro
Não beijo, mordo
Não respiro, transpiro
Não caminho, corro
Não sobrevivo, vivo
Não engano, cumpro
Não idealizo, realizo
Não combato, apaziguo

Não me perco… Encontro-me.

JP

INADIÁVEL

De dedos enredados
Nos galhos sacudidos,
Forte como o vento que sopra…
Frio como o orvalho que há-de vir…
De olhar atento, adio o inadiável.

JP

domingo, 6 de abril de 2008

VIOLINO

Só em Campo de Ourique.
Depois de degustar no João, fui para o carro. Os meus passos estavam a ser sonorizados, sonoplastia em directo. Não podia ser verdade, por mais lírico que me encontre… Mas estava demasiado nítido, excessivamente coerente.
No meio das muitas luzes enjaneladas, uma entreaberta, inundava a noite de quem passava.
Eu estava a passar…
O vizinho ensaiava.
Que bonito.

JP

sábado, 5 de abril de 2008

ORGULHO II

“Estás triste, Papá? Eu sei. À noite custa mais, não é? Eu percebo. É sempre à noite que me lembro das coisas más do dia… Não estás sozinho. Eu estou aqui contigo, vamos dormir juntos e ainda por cima, temos televisão no quarto. Anima-te Papá, anima-te. Quando te disse ao pé da Mamã e do Gonçalo, que um homem não chora, estava a brincar... Eu às vezes choro. Juro, Papá. Não acreditas?”
.
Acredito, filho... Acredito.

NP
(10 anos, uma vida pela frente)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

MARCAS VÃS

Dedicatórias manuscritas
Em tinta de água,
Cravadas por mão ausente
Em livros que me nutrem de sopro.
Não folheio, desfolho…

JP

ORGULHO

A magia da Mãe leu o meu “NI” ao Tesouro… Ligou-me. Falámos, eu e ele… Renasci.
Ainda estou no primeiro grito chorado. Ainda, de cordão umbilical dependurado, espero a tesoura de corte…
Não cortem já, por favor!
Deixem-me estar no colo do meu filho.
Que força, meu amor. Que orgulho!
És a cor do meu pensamento.

Fiz-te e agora fazes-me tu… Quem diria…

JP

quinta-feira, 3 de abril de 2008

CINEMA PARAÍSO

Somos tão pequeninos, não somos?
Simplesmente desconcertante, não é?
É a força do beijo proibido… A memória nunca tem cor. É como os sonhos, sempre a Preto e Branco. Nunca tinha pensado nisso. Abana-me a existência… Que bom.

JP

NI

E ter o Filho Mais Bonito Do Mundo?
Não tem explicação.
Ouço-o falar e antes de cada resposta, tenho de me lembrar que o Pai… Sou eu.

Vem do teu sorriso,
Das tuas carícias,
Do que me dizes, meu amor…

Segura-te, filho. Mantém-te assim, como já fui um dia… Não te deixes apanhar por tenazes de ferro, que forçosamente, te aliciarão na vida que te espera.
Espera tu pela vida, filho. Espera-a activamente. Regurgita o indigestível, regozija o genuíno…

Dá cá a tua mão.
Não! Toma antes a minha.
Vamos caminhar. Olharemos de vez em quando para trás… Assinalando as pegadas, as pétalas caídas... Largadas, renunciadas.
Um dia, serão só as tuas… Mas seguiremos de mãos dadas. Olha a tua avó na minha outra mão…

Quando for grande, quero ser como tu, meu filho.

Amo-te,
“Até ao infinito e mais além, Papá!”

JP

ESCORREGADIO

Curvas apertadas
Pérfidas e lúbricas,
Aderência firme
De quem já não derrapa.

Só flutua, só flutua...

JP

quarta-feira, 2 de abril de 2008

DE TU QUERIDA PRESENCIA

Agora como dantes, te vejo, perdão, te ouço.
És o meu Poeta Da Rádio.
Fantástico, Fernando Alves… Dás-me todas as imagens, enquadradas nas tuas palavras, num voo atento e apaixonado sobre Cuba. É embalado pela voz, pela tua voz, que hoje adormeço…
Trazes-me sons, cheiros, gentes.
Transportas-me de novo às ruas onde já fui tão feliz.

Hasta siempre, Comandante!
Pelo menos a mim, tens comandado a noite, com a verdade dos teus olhos transformada em Rádio Sonho…

Que saudades.

JP

domingo, 30 de março de 2008

A AMIGA

Morri. Venha quem vier, morri...
Hoje abracei a Cristiana Tourais (a melhor amiga da minha mãe).
Trocámos o olhar e eu senti, por momentos, que o movimento da terra parou. Parou, mesmo.
Porque não falaste, Cris? Sim, tu! Porque não verbalizaste? A ti, tudo te responderia…
A ti, tudo deixaria claro.
És a responsável pelas Papoilas, lembras-te?
Ver-te, foi renascer…
Até hoje, não me lembro de nada nem de ninguém, que a chore como tu o fazes. Assim, com esses silêncios.

Encontramo-nos em cada gole de whisky, onde a Rainha nos visita, em forma de Pétala, por ti desenhada, vestida de verdade.
Para nos oferecer o pólen da força e nós à espera, de novo, pelo desabrochar da cor de um dia limpo de angústia.

Já vem a caminho, sentes?

JP

CHE

Foi mais forte que tu, não foi, Primeira Papoila? Tinhas de vir… Alagaste-me o vazio com a tua voz, chamando-me alto.
Cada beijo que me deste, derreteu-me a pele.
Que saudades, meu irmão…
Desculpa as esquivas às tuas perguntas. A seu tempo virão, as respostas...

Bastou-me o teu cheiro, o teu peso, a tua voz, o teu olhar... Para me sentir, novamente, o teu “puto" de sempre… O que proteges à distância, com uma simples lembrança.

Já vivemos de tudo, não foi mano?
Amo-te tudo.

JP

DIAMANTE

E se conheceres o meu lado negro, continuas comigo?
Não te enrosques a mim… Deixa-te disso. Eu não sou assim. Tenho mais noites em branco, que dias na claridade-cínica das trevas.
Sou um soldado do conhecimento, uma esponja do sentido, ou do laxismo.
Vivo mais o que os outros vivem, que aquilo que eu próprio protagonizo.

Se gosto de mim? Claro que sim! Amo esta capacidade que tenho de respirar o que os outros expiram… Separo o nocivo do vital.

Sou Diamante Louco, áspero de tão polido…

JP

sábado, 29 de março de 2008

PORTA

Recebi de ti, um abraço equatorial, quente, profundo… Acaloraste-me o corpo. Gradientes de pulsação que se desestabilizam.
A visão, quando acompanhada pelo toque, ganha dimensões colossais…

Olhaste-me,
Tocaste-me,
Abriste a porta de entrada para morares em mim…

Deixa-a aberta,
Até eu, posso sair.

JP

sexta-feira, 28 de março de 2008

COLO

Adoptado.
Fui recebido por vocês desde que me perdi em Lisboa, já lá vão tantos anos.
Ausentaram-se escassos dias e senti-me perdido.
Que bom ter-vos de volta.
Que bom receber o calor epidérmico da adoptante…
Que bom escorar pela calada, os carinhos que atira o adoptante…

Também vos vivo, por me viverem. O vosso colo é providencial… Belo de tão genuíno.

Bebo dos vossos silêncios goles berrantes, acreditem.
Sou muito melhor, tendo-vos…

Amo-vos.

J(orge)P(ilar)
(e o meu nome contém a ironia da coerência)

quinta-feira, 27 de março de 2008

UM DIA

Foi um dia, como outro qualquer… A diferença está no facto de ter sido o dia em que a Mãe se fez pedra.
Indumentária por ela separada, gente por ela escolhida. Um desejo esquecido por quem a chora… Nós.

Queria despedir-se com o timbre da Amália, não foi.

Partilhou, em frágeis desabafos, a flor de eleição: O Cravo Vermelho (não será preciso justificar).

No tropeçar da noite chega um anjo…

Olhou,
Chorou,
Lembrou,
Tremeu,
Morreu,
Ressuscitou,
Fez-se menino,
Cresceu…

… e pousou no peito da Cina, um Cravo Sangue, que ainda hoje respira…

Para uma Papoila da mesma cor,
Que vive no Deserto.

JP

ENSAIO

Prestes a planar no sonho de menino…
Amanhã será mais uma etapa para chegar ao voo autónomo. Mão esquerda no manche, ensaiando manobras seguras, firmes, convictas. Mão direita afirmando vigor ao progresso…

Descolarei?
A ver vamos…
As nuvens de tecto alto são o limite.

Estou pronto. Já sinto o vento de frente…
Haja céu que me trave.
As estrelas vistas de perto, são tão mais bonitas...
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JP

terça-feira, 25 de março de 2008

ARMADURA

A julgar pelo pensamento, já não se pensava.
Já pensaste?
Anda! Sem medo...
Vamos! Estás à espera de quê?
Já está?
O quê?
O pensamento, porra!
Vamos. Vinga a vida de merda, na merda da vida.
Completa o puzzle.
Faz de ti, ou de mim, o primeiro marcial desta guerra que também é tua.
Sim, é tua também.
Guerreaste tantas quanto eu!
Abraçaste armaduras, como eu,
Atacaste, tanto quanto eu…

Vives ou viveste, no lodo movediço que aduba as nossas vidas.

E as palavras com a força de sempre, qual trincheira defensiva, onde se ganham batalhas...

Estou Louco?
Sim, estou.
Antes morrer de pé nesta loucura, que viver de joelhos nessa lucidez...

JP

PONTAPÉ

Um pontapé no Futuro! Aí está.
A partir de agora a doutrina é: Não adiar o presente.
.
Esta é a defesa, para quem o passado pesou tanto…
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JP

domingo, 23 de março de 2008

MÃE

Dizem-me, teimosamente, que ainda não resolvi a morte da minha Mãe. Como não? Só o facto de ter a coragem de escrever “MORTE”, já denuncia alguma resignação, não?
Tenho saudades… A saudade protela a presença. Continuo a acordar diariamente com a ária dos seus passos pelo corredor. Antes de sair para trabalhar, beijava cada filho como se fosse o primeiro. Não sei a marca do perfume, para mim cheirava sempre a Mãe.

Neste preciso momento, enquanto escrevo, está aqui ao meu lado.

Estás a olhar para mim, Mamã?
Faz-me aquelas festinhas, que me desligam da corrente e me fazem regressar ao abraço placêntico…

Lembras-te, Mamã? Quando as tuas perguntas traziam todas as respostas, quando o último cigarro era democraticamente dividido, quando amanhecia e nós na varanda, em busca da noite clara… Quando éramos só nós.
Eu, vindo de Ti. Tu, Eu em forma de Mãe…

Disse-me a tua primeira Papoila, que escrevo como escrevias.
Como me emociona, Mamã...
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JP

sábado, 22 de março de 2008

TRIBUTO

Está a acabar…
Bebo as últimas gotas da aguardente 30 ANOS do meu avô. A idade, já é motivo bastante para perpetuar nas teclas a sua existência. Mas, acreditem que este néctar tem sido o meu reduto… Fica aqui a merecida reverência, ao palato herdado de alguém que não conheceu o pecado.

Tenho saudades tuas, avô. Das viagens que fizemos, em que as paragens demoravam mais que o caminho… Em que o teu sorriso maroto, escondendo orgulho, me levava ao destino, mais rápido que qualquer comboio (Tu percebes).

Continua, nos sonhos, a piscar-me o olho como sempre fizeste.

JP

sexta-feira, 21 de março de 2008

ATLÂNTICO

Indecisão ao almoço, onde ir? Fui, magneticamente, atraído para a praia…
Hoje falei com o Mar.
As ondas trouxeram palavras maduras que ouvi atentamente. Também falei, mas menos… A determinada altura fechei os olhos. Inacreditável composição. Tinha melodia, juro! Com uma métrica musical irrepreensível, um vai e vem quase orgásmico. Capaz, imagine-se, de eliminar por completo as vozes estranhas que teimavam em ficar. Momento inesquecível e obrigatoriamente a repetir, em forma de rotina…

Cheguei a casa com o atrevimento de reproduzir ao piano a experiência, em vão, claro. Os dedos são curtos demais, frente a um Mar tão colossal…
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Obrigado, Atlântico.
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JP

LIÇÃO

QUANDO NÃO SE SABE QUE CAMINHO SEGUIR, QUALQUER CAMINHO SERVE. Disse-me hoje um anjo… Faz tanto sentido. Podia perfeitamente ser o título do capítulo cessado da minha vida. Nos momentos de fragilidade emocional, estamos vulneráveis a qualquer manifestação de afecto.
Nessas alturas, uma carícia ganha proporções vertiginosas, avassaladoras mesmo… Vestimo-nos de anestesia, bebemos vertigem e construímos castelos de pó, tombáveis à mais leve brisa…
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O Poeta tem sempre razão: "É melhor amar e ter perdido, do que nunca ter amado de todo".
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Do engano nasce a certeza, da desilusão… a lição.
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JP

quinta-feira, 20 de março de 2008

NOVO DIA

Não há nada pior que o convívio compulsivo e inevitável com a hipocrisia. Há que manter as defesas em alerta permanente, impedir a infecção, desviar olhares, acenar cumprimentos vestidos de amarelo-cínico. Comigo resulta, pelo menos tem resultado… Dos paliativos pós-traumáticos nasce outra lesão, que se resolve, mas que desgasta.

A luta continua,
Por esse novo dia.

JP

terça-feira, 18 de março de 2008

POLITICAMENTE INCORRECTO

Venham as aranhas literárias, dizer que as teias duvidosas e mal tecidas são verdade… Estão a brincar comigo, ou quê? A vida verbalizada não é a vida escrita!
Escrever dá trabalho, porra! Há que ser Bom no Verbo…
É um exercício mordaz, frente à vida que nos envolve.
Como queria eu escrever como os escritores.
Meu Deus… Trazer para as palavras a inconstante da existência…
É difícil. Demora teclas e teclas...
Ter, assim, o atrevimento de dar sem receber.
Ter a coragem de escrever amanhecer quando anoitece e vice-versa...
Não é para todos os mortais.

Tenham a coragem de iluminar os Escritores Negros que a carteira esconde da luz, onde se pode, tranquilamente, escrever como quem se despede ou se abrilhanta, numa radiação que engana a inspiração...

JP

NOS BRAÇOS DA PAZ

Arrepios que me inundam
Como farpas certeiras,
Beijos secos e apagados…
Inconstante liberdade
Que agarro com solidez.

São os braços da paz, que se abrem para me receber...

JP

domingo, 16 de março de 2008

VOA

Refúgio mundano onde se pacificam viveres, onde o informal ganha forma.
É a minha casa. Tem novo cheiro, novos sons, nova ambiência… Esta é a esfera onde rebolo, onde me equilibro malabaristicamente, seguro e contrapesado.
Vertigens? Como não? Claro que sim. Venha o primeiro defender o abismo sem riscos… Não seria abismo, seria pára-quedismo…
A incerteza na rede sustenta o risco. Condimenta-o, dá-lhe sentido. Vivam todos aqueles que se atrevem a saltar, sem medos nem vertigens. Que saltam, simplesmente...

Não abriu a asa?
Esborrachas-te!

APRENDE com a queda, mas não te deixes vencer pelo medo, continua a saltar.
Um dia a felicidade, feita almofada, amortece-te a queda e impulsiona-te noutros voos…

Voa, voa… É tão bom.

JP

sábado, 15 de março de 2008

EQUÍVOCO

Branquear o gesto
Fechar os olhos para ver
Dissimular pretéritos
Demorar na utopia
Onde o equívoco faz sentido

JP

ASPAS

Perdido no tempo como ponteiro louco. Assim se marca o passo de quem caminha perdido no encontro... Uma mão que convida, um abraço que espera, um beijo tardio que vem a tempo. São ternuras à balda, são aspas daquilo que um dia vivi... E não deixarei de viver.
.
JP

sexta-feira, 14 de março de 2008

TROPEÇO

Um tropeçar despido de tudo
Vestido de nada
Abismos de luz
Que acendem o escuro
Onde te espera o regaço que é Verdade

JP

EMBRIAGUEZ DA ESPERANÇA

Chegaste sentado mais alto que todos, suspiraste “finalmente”… Engoli em seco, travei o embaraço e beijei-te na testa pálida… Ontem, as nossas vidas ficaram mais bonitas. Foram inundadas de esperança, de alívio, de força.
És fonte de nobreza, de alento, de determinação…

Foi mais um passo, de tantos que hão de vir…

Força, companheiro!

JP

quarta-feira, 12 de março de 2008

DESERTO

É no impacto do passado que, por vezes, se encontram as respostas para este presente. Isto, dá forma ao futuro... É para mim emocionante, que a tua presença faça parte das três etapas... Viva o que não se perde, nos cacos de um coração em puzzle...

JP

segunda-feira, 10 de março de 2008

ZITO

O teu olhar basta-me, para iluminar o meu…
Um toque, um sorriso, um abraço… E traz-me tudo aquilo que para mim representas: A mais pura forma de amor fraternal.
És Papoila, és irmão…
Estiveste sempre comigo, com os teus silêncios, nesta caminhada ao retorno.
Vivo-te, por me viveres…

JP

domingo, 9 de março de 2008

REGRESSO AO FUTURO

Despeço-me dos derradeiros minutos de retiro, visto-me de dignidade, anseio o bater da porta de saída, para entrar de frente na vida…

Estou de volta, amigos.
Para trás ficam ensinamentos, feridas que se cerram, abraços recebidos que me levam à permuta. Serviu, também, para me exorcizar através da escrita. Caminho desconhecido, nunca por mim trilhado…

Vivam os amigos, os cigarros, a escrita, a raiva, a paz, as ruas, a família, o carro, a bicicleta, o avião, os estranhos, o vinho, a televisão, os jornais, o telefone, a presença, a ausência, o silêncio…

Regresso…
.
JP

PROFECIA

Gelo do silêncio,
Tormento de inquietude.
Preocupação alheia
Com quem não assiste,
Só delira… Delirando…

Nada teme,
Nada estremece.
Num mundo criado
Ao seu belo prazer…
Quimera efémera. Um destino que me assombra…

JP

sábado, 8 de março de 2008

DESCOBERTA

Sem medos, ou receios,
Entrega-te...

Encosta-te a mim
Converte-te ao avesso
Desnuda-te de qualquer preconceito
Deixa-me ver-te, assim, nua…
Tenho de ser eu, a sentir o teu pudor.

Os olhos, são os primeiros a tocar, e únicos…
Olhar com olhar,
Este é o compromisso.
Não se pode desviar a miragem,
Para que a descoberta perdure…

Sem medos, ou receios,
Entrega-te...

JP

HÉLDER

É no meio de um sorriso de alento que bebo da vida. Que bom… Somos tão pequeninos quando se agigantam esperanças. Ver-te assim Pilar, perdida na firmeza de um desejo comum: Ver de pé um Touro Sentado.
Como me emocionas…

És tão bonita, amiga. Os sais que te percorrem o rosto, despidos de entraves, genuínos e sólidos como pilares piramidais, desnudam-me de preocupações…
.
Despes-me de angústias, nesta vida que não levamos mais que pó…

Abre os punhos, Mãe Pilar.
Não cerres o coração, que é tão belo quando chora…


JP

BORBOLETAS

Uma noite em claro,
Na escuridão do medo.
São as últimas borboletas a ir,
Num bater de asas frenético.
Deixam crisálidas enigmáticas, que sustentam a vida...

JP

sexta-feira, 7 de março de 2008

EU NÃO!

Recuso-me!
Não alimento ódios para resolver amores!
Eu não!

Recuso-me a respirar podridões sociais
A viver refém da vida de alguém.
Eu não!

Recuso-me a digerir o que me empurram pela boca…
Quero mastigar, porra!
Quero sofrer, para dizer que vivi.
Eu não!
Eu não tapo os viveres com as vísceras de um inerte!

Que se lixem os canibais emocionais,
Comem-se uns aos outros como vermes.
Eu não!
Eu não me deixo corroer.
Recuso-me!

Quero mergulhar intimamente em mim!
Afogar-me no Eu Profundo…
Ficar por lá.
E depois, muito depois…
Emergir renascido, sem ter perdido a recusa.

JP

18:41

Um minuto como outro qualquer
Uma passagem, um avanço…
Um momento que progride.
Um trilho que se percorre,
Na cegueira de quem avista…

JP

PAI

Não resistiu, foi mais forte que ele… Chegou-me vencido pelo susto…
Trouxe com ele interrogações, levou outras.
Fizeste-me tão bem… O brilho contido que trouxeste nos olhos deu-me paz… As tuas máximas, por ti vividas, passadas à minha vida, ditas por ti fazem sentido.
“O coração fica de fora, a inteligência por dentro” Assim será!
“A eternidade, pode durar uma bica, uma noite, um cigarro… Não te arrependas do passado, aprende com ele” É tão verdade.
Quero, um dia, ser como tu. Chorar o que tenho de chorar antes ou depois do dilúvio. Na solidão, nos amigos, nos copos… Nunca na conduta.
Obrigado pela tua presença… Na minha ausência.
Amo-te profundamente, és a maior das Papoilas.
.
JP

EGOÍSMO

O poema em forma de licor deve ser segurado, saboreado, vivido até ao limite… Sem medos nem fronteiras. A realidade tem, necessariamente, de ficar do lado de fora. Aqui só cabe o sonho, a tempestade e a bonança, o susto e o sossego… Deve ser agarrado pelas mãos, fechadas em copas, como quem dá guarida a um passarinho ferido que ainda não está pronto para voar… Mesmo depois, quando o pássaro quiser sair, já sarado, tem de prevalecer o egoísmo poético que tempera a vida, de quem protela o regresso à realidade.
.
Espera um pouco passarinho, deixa que outro poema tome o teu lugar…

JP

quinta-feira, 6 de março de 2008

TEMPO

Barulho ensurdecedor do silêncio,
Castro violento do tempo
Que contado ao milésimo, mede mais…
Mede-se cada momento como único
Unicamente longo…

Procuro nos intervalos do prazo
A resposta que vem do anseio,
Vivo preso à conclusão
Que tarda, mas que se avizinha.
Num delírio desconforme, desta existência que me agita.

JP

ALMA

A alma do vinho. Lugar comum, é certo. Mas, esta noite em particular, o incomum teve lugar… Que vinho, que prazer… Eu explico:
Ouvi a abertura, exalei-o, sacudi os anos de retiro, cheirei o perfume da rolha, bisbilhotei o aroma do néctar, aproximei-o da boca… Não o bebi, bebeu-me.
ALTAS QUINTAS 2004 – ALTOS VOOS 2008.
À vossa!
.
JP

OLHO-ME

De repente, olho para mim… Literalmente em frente ao espelho. E ouço o que o outro diz. Eu não abro a boca. Fala tanto! Tem tanto para dizer… Eu, atento ao outro eu, vou acenando calado concórdias e discórdias. É tão melhor que eu, o outro eu. Tão mais arrumado, decidido, combativo, seguro… Encurto as distâncias entre nós, testa com testa, sinto o frio do espelho e pergunto: “Queres trocar?”
Ele acenou calado a concórdia…
.
JP

quarta-feira, 5 de março de 2008

CREPÚSCULO

É no crepúsculo do dia, que se fazem as contas com a luz… Se esclarecem os sentires, é aí que me encontro… Foi o que fiz hoje, caminhando, caminhando… Encontrei-me. Tenho-me encontrado tanto… Olho para vislumbres de uma forma que nunca olhei. Vejo nas vidas dos outros, a minha vida. Tudo se relativiza, tudo ganha novas simetrias. Igual a mim próprio, egocentricamente observador, procuro à minha volta as voltas que eu próprio dou. E dou... E dei… E doeu... O alvo emocionalmente frágil que sempre me caracterizou, ganhou exosqueleto… Seguirá susceptível a disparos e arremessos, mas, lamentavelmente prudente… E a prudência consome, aflige. Não é boa. Decepciona… Abono a mim mesmo a garantia de não perder o que de melhor tenho: Alvo… Assim será.

JP

INCONDICIONAL

Dois putos, dois sonhos, um desejo comum… Escolhemo-nos um ao outro para descobrir o amor. E descobrimos…
Perpetuámo-lo em forma de criança. Tão belo o nosso menino… Tão especial e tão mágico…
Com a simplicidade de um olhar tudo absorve, tudo percebe, nada questiona… É fruto de dois mundos, tão diferentes, mas tão igualmente intensos.
A tua afeição incondicional emociona-me, amiga… É bom saber que estás por cá.

És amiga,
Confidente,
Ombro,
Sorriso,
Palavra,
Asilo,
Reduto,
Apontas o dedo,
Abres a mão, para uma doce carícia…

E és mãe da nossa Papoila…
Obrigado por existires, Cris…

JP

MANO

Hoje, a Primeira das Papoilas é uma sementinha... Parabéns, mano Nuno. Continua a polvilhar as nossas vidas com o teu pólen sábio. A minha, é assim que a temperas...

Um beijo no teu coração.

JP

terça-feira, 4 de março de 2008

PELE

Fecha os olhos…
O segredo está na pele
Tocada em silêncio, quase que se ouve…
Os poros dizem, dialogam mesmo
Em conversas ternas e profundas

O toque transpira
Num bailado enredado
Tremura que despe,
Vacilo que denuncia…
Anunciando a detonação epidérmica

A estridência dos poros
Pautada pela firmeza do toque,
Prenuncia o fim
De tantos princípios

Abre os olhos…
O segredo está na pele

JP

SUSTENTAÇÃO

Na vertigem de um voo nocturno
Invertido, louco, em espiral
Numa atitude desesperada
Na ruína que inevitavelmente espreita
Eis que o vento parou…

Respiro.
Transpiro.
Estabilizo.
Flutuo…

Que paz…
Que sono…
Que bom…
Que quietude…

Quero ficar assim
A olhar para mim, assim…
Parado no ar
Em redor de mim mesmo
Só assim, aterrarei em plano seguro…

JP

segunda-feira, 3 de março de 2008

FUTURO

Um rasgo de clarividência
Os olhos de frente prá frente
Onde reina a ternura
Doce e tranquila
É para lá que vou, num passo combalido

Para trás ficam pegadas
De caminhos percorridos
Com firmeza nos vestígios
Marcas sublimes
Resistentes ao remorso

Estou a um passo de lá chegar
Levado pela força do passado
Onde não houve lugar para a mentira
Onde os redutos se cruzavam
E as emoções coincidiam

Vou lá chegar!
Estou tão estupidamente perto…

JP

PARTILHA

Partilhar... Ora aqui está uma palavra que resolve... PARTILHAR. A nobreza do verbo, não faz sentido se não for intrínseco, deve ser gritado. PARTILHO! Talvez assim se ouça... Talvez assim eu ouça. Chego à conclusão que aí residiu o cancro do meu ser... Não me ouvi, acho mesmo que não cheguei a gritar. Agora grito. Agora, de ouvidos atentos, procuro o barulho que o silêncio mundano não me permitiu receber. Papoilas há, que a vida não lhes permitiu sair da condição de daninhas... Eu sei de uma, que tem todas as potencialidades para ser a mais bela das Papoilas. A Papoila por quem todos esperamos, a que tem a lâmpada mágica para iluminar as nossas vidas... Não sabe ainda, que a luz que ilumina o caminho, não é a que deriva do brilho exterior, mas a que nos aclara por dentro. Lá chegará... Lá se resolverá... E o mundo ficará tão mais bonito...

JP

domingo, 2 de março de 2008

SAUDADES

Que saudades, Mãe...
Saudades do encosto
Onde o rosto enroscava sentires
Onde os sentires enroscavam certezas

As tuas certezas... E que certezas...
As sábias, as que sempre questionei
As que se agigantavam
Perante a incredulidade da verdade
A tua verdade... A única verdade

Saudades do teu cheiro
Das tuas mãos...
E que mãos... Mãos de seda
De fino toque
Capaz de confortar o mais áspero dos sentimentos

Vou dormir ao teu lado, esta noite...

JP

LÁGRIMAS

Ventos que sopram
Por quadrantes inesperados
Sopros que enxugam lágrimas
Que não querem ser choradas
Que só querem ser lembradas

Vidas cruzadas
Num tabuleiro sem regras
Onde as peças se movem
Num desgoverno apaixonado
Na eminência da queda

É na incerteza do sentido
Que encontro a certeza de sentir

Já o disse uma vez... Correu-me tão mal.

JP